Experimentando Amsterdã

Ao escolher os lugares que visitaria durante um tour pela Europa, Amsterdã foi a primeira cidade que surgiu na minha mente. E não, não foi por causa do distrito vermelho, reduto do sexo que atrai turistas curiosos; e nem pela oportunidade de, livremente, experimentar a maconha nos famosos coffeshops. Mas talvez pelo o que isso representa: o pensamento liberal. Não é todo dia que se encontra uma sociedade onde a prostituição e a maconha são legalizadas e regulamentadas, onde o estado é verdadeiramente laico. Questões discutidas com ardor em congressos e parlamentos de outros países, como casamento gay, eutanásia e aborto, já são permitidas há décadas em Amsterdã. O automóvel é um entrave e a maioria da população utiliza (e prefere!) o transporte público ou a bicicleta.
Mas esses fatores talvez não sejam tão perceptíveis quando se está apenas de passagem. E é aí que surgem outros argumentos para decidir visitar Amsterdã. Uma cidade praticamente dentro de um rio, repleta de pontes e casas-barco. Bicicletas pra todo lado – todo lado mesmo!! E uma arquitetura simples e rústica. Muito charmosa!!

Antes de embarcar, li A Arte de Viajar, do filósofo Alain de Botton, que num trecho descreve um aspecto da Amsterdã moderna: “Prédios com tijolos longos de um tom cor-de-rosa pálido e unidos por argamassa curiosamente branca; longas fileiras de prédios estreitos do início do século XX, com amplas janelas no térreo; bicicletas estacionadas em cada casa ou quarteirão; o desgaste democrático do mobiliário urbano; a ausência de construções ostentosas; ruas retas pontuadas por pequenos parques. Numa rua com prédios uniformes, parei diante de uma porta vermelha e senti um desejo intenso de passar o resto da vida ali. […] Meu amor pelo prédio de apartamentos baseava-se naquilo que a mim se afigurava como sua modéstia. Era confortável sem ser grandioso. Sugeria uma sociedade atraída por um meio-termo financeiro. Havia honestidade em sua concepção. Enquanto em Londres os portões de prédios tendem a imitar a aparência de templos clássicos, em Amsterdã eles aceitavam seu status, evitavam pilares e acabamentos em gesso, optando pelos tijolos puros sem decoração. O prédio era moderno no melhor sentido da palavra, passando uma mensagem de ordem, simplicidade e leveza.”

2014-05-21 - Amsterda (1)(Arquivo pessoal. Herengracht, Amsterdam – jan/2013 . Arte by Adriana Amanari)

Ordenada, simples, leve… e charmosa. Resume bem! Amsterdã concentra aspectos materiais e imateriais que me atraem e foi a soma desses aspectos que me levou até lá, uma vontade de presenciar um outro estilo de vida, esse “meio-termo”, mais ajustado à minha identidade, ao que eu gostaria de vivenciar diariamente.
Para vivenciar o espírito liberal, matar a curiosidade no bairro da prostituição (sem tirar foto, é proibido!) ou apenas pra fazer check-in no Foursquare, a visita vale à pena. Amsterdã é uma cidade pequena e as atrações se concentram na parte central, o que permite uma visita de poucos dias. O Rijksmuseum, o museu Van Gogh e a casa de Anne Frank são as atrações mais famosas para os fãs de arte e museus. A cidade também possui belos parques e os famosos passeios de barco pelo rio Amstel. Tudo isso é possível aproveitar em três dias se locomovendo à pé, de bicicleta ou de tram – igualmente seguros. E uma dica confortante: a comunicação em inglês é possível em praticamente todo lugar, inclusive com a população local. Acredite, isso faz muita diferença, principalmente pra quem viaja sozinho.

Aproveito o primeiro post dessa seção para lembrar que a proposta aqui não é fazer um guia de turismo ou gastronomia – a internet já está repleta deles – mas compartilhar impressões, sensações e experiências de viagens à vários destinos, inclusive esses do dia-a-dia, como uma viagem ao café mais próximo…

Kelly Mendonça
 Amante das Ciências Humanas, viagens, cafés e outras delícias…

3 comentários em “Experimentando Amsterdã

  1. Esse “simples” me encanta, e rústico me emociona, acho que adoraria conhecer Amsterdã!!! Sua redação Kelly, me deixou mais afim ainda rsrs.

  2. Nem sabia q existia Amsterdam alem do distrito vermelho. Vou explorar essa outra parte na minha proxima visita. Rs Texto muito bom

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